Gata Borralheira

Apresentação

  DANIEL LIMA - 16/04/2002

Quando decidi escrever Complexo de Gata Borralheira na manhã de sexta-feira, 18 de janeiro deste 2002, anunciei a proposta a milhares de emeiados do Capital Social, boletim eletrônico que produzo e que alcança diretamente mais de cinco mil pessoas no Grande ABC, além de centenas espalhados pelo Brasil. No mesmo horário, o prefeito Celso Daniel estava atribulado no Paço Municipal de Santo André. Quando o prefeito recebeu uma cópia do Capital Social, já havia produzido 20 mil caracteres. À noite, numa emboscada do destino, Celso Daniel foi sequestrado. 

O cronograma da produção editorial que havia anunciado aos emeiados sofreu remanejamento por força dos desdobramentos do sequestro. Tive de me dividir entre Complexo de Gata Borralheira e o trabalho de equipe para produção da Reportagem de Capa de fevereiro da revista LivreMercado. Nenhum jornalista o entrevistou durante mais tempo e conheceu mais proximamente seus ideários. Não fomos amigos em vida como poderíamos ter sido porque sempre foi difícil conciliar os atropelos de um editor que trabalha pelo menos 16 horas por dia e de um prefeito incansável e múltiplo como acadêmico, esportista e administrador público. 

A diferença entre Complexo de Gata Borralheira antes de Celso Daniel ser assassinado e Complexo de Gata Borralheira sem Celso Daniel é que resolvi introduzir de forma explícita o personagem do prefeito neste estudo que defino como sociológico, socioeconômico e sociocultural. Antes, em vida, o melhor homem público que a região já conheceu seria cuidadosamente implicitado apenas, para que não parecesse privilégio. 

Verificarão os leitores desta obra que Celso Daniel é o único personagem individual e real de um encontro em que os demais protagonistas são coletivos e ficcionais. Um autêntico paradoxo porque, de fato, Celso Daniel se transformou em algo etéreo enquanto os demais, materialmente indutores de abstração, são de fato reais, palpáveis, concretos. 

Por que Complexo de Gata Borralheira? Porque o Grande ABC acha-se sempre inferiorizado diante da Capital tão próxima e, para negar essa evidência, reage de forma insana e grandiloquente, o que só confirma essa patologia de efeitos culturais, econômicos, sociais e políticos. 

Acredito que esta obra reúna ingredientes que possibilitam a qualquer aluno de Ensino Fundamental e Ensino Médio interpretação providencial do significado histórico desta que é uma das porções socioeconômicas mais importantes do País. Foi essa essência que nos levou a debruçar sobre nossas virtudes e nossas mazelas. Sem medo dos resultados dessa exumação pública de nossos pecados conhecidos, mas geralmente omitidos. 

Em nenhum instante me deixei contaminar por qualquer sentimento do que se convencionou chamar de politicamente correto, irmão siamês da prática de levar vantagem em tudo. 

Complexo de Gata Borralheira invade o âmago do Grande ABC de forma didática. Confesso que escrever esta obra foi um desafio pessoal. A linguagem quase coloquial contrapõe-se à sobriedade dos textos que geralmente exercito nas análises que produzo para Capital Social e LivreMercado. Pensei em meus filhos de 11 e 14 anos, Lara e Dino, como desafios à simplificação. Superar a atratividade da TV, dos games e da Internet, reconheço, não é tarefa das mais simples. 

Espero não ter chutado a bola fora, porque exorcizar o Complexo de Gata Borralheira é batalha praticamente perdida pelos adultos, mas vale a pena ser incentivada junto aos jovens.

DANIEL LIMA 

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